DESABAFO DE UMA PROFESSORA
CARTA ABERTA AO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO.
Sr. Ricardo Dantas,
Quando em 1993 passei no primeiro concurso público para ser professora
da Rede Estadual de Pernambuco, senti-me feliz, afinal, através dos meus
méritos eu havia conquistado um emprego público que me garantia a tão
sonhada estabilidade que um pobre busca para a sua vida; a certeza de
que teria meios para ser uma mulher independente financeiramente, com
direito a uma aposentadoria tranquila quando a idade chegasse.
Por
incentivo dos meus familiares, em 1996 fiz um segundo concurso público e
passei. Eu era jovem, ágil e senti que daria conta da dupla jornada de
trabalho que 350 aulas impõem a uma professora. Jovem, idealista e mãe
principiante, tomei gosto pela educação e, apesar de nunca ter me
considerado uma professora excelente, sempre tive o carinho e o
reconhecimento dos meus alunos ao longo desses vinte anos e cinco meses
que estive exercendo esta missão.
Passei por vários governantes
estaduais e municipais, ou teriam sido eles que passaram por mim? E por
todos esses anos, nunca tive a sensação do reconhecimento da nossa
categoria por nenhum deles; nunca tive o prazer de sentir que a EDUCAÇÃO
era prioridade em seus governos; nunca os vi tratar a minha categoria
com o respeito que nos é merecido, contudo, nenhum deles, nos tratou com
o descaso e o desrespeito que este senhor, que hora administra o estado
de Pernambuco, vem nos tratando.
Há momentos em que eu tenho
dúvidas se sou uma professora ou se sou um número, uma estatística, ou
um ponto que liga um outro ponto numa tabela numérica. Em outros
momentos, sinto-me como um elástico esticado ao máximo que a qualquer
momento irá romper-se. Há uma sobrecarga de cobranças por números, por
quantidades com a única função de aumentar índices e mais números e mais
gráficos estatísticos.
Qualidade? Alguém aí em sua equipe conhece o
significado desta palavra? Qualidade de vida dos professores, então é
algo de total desconhecimento por parte do senhor e de todos com os
quais o senhor trabalha. Ah, desculpa, eu esqueci que o senhor acha que
nós, professores, não temos direito a “ter vida após as aulas”. Então,
consequentemente, não precisaremos de qualidade.
Sinto saudade hoje
de todos os governantes que antecederam o atual Governo do Estado; por
que eles foram bons para a Educação? Por que eles souberam valorizar a
categoria dos professores? Por que eles estruturaram as escolas? Por que
eles buscaram a qualidade na educação antes da quantidade, dos
percentuais e dos dados numéricos?
NÃO e SIM, pois hoje reconheço que cada um deles deu pequenas, quase ínfimas, contribuições com alguns desses itens.
Entretanto, a falta que eu sinto é da sensação de segurança que eu
tinha enquanto funcionária da Rede Estadual de Pernambuco e professora
LOTADA NA ESCOLA JOÃO RODRIGUES CARDOSO, escola aonde eu trabalharia até
o dia da minha aposentadoria. Escola na qual iniciei a minha “vida
acadêmica” e cursei os meus primeiros oito anos de ensino e da qual saí
em lágrimas, pois ainda não havia sido implantado nela o Ensino Médio,
na época denominado “2º Grau”.
Sabe o senhor o que representa para
uma pessoa pobre, mãe de dois filhos adolescentes, que aos 45 anos de
idade se depara com a insegurança de não saber aonde irá trabalhar a
partir do ano de 2014?
Sabe o senhor o que significa para uma
professora passar por este desgaste emocional e físico em pleno fim de
ano letivo, quando já está com o organismo demonstrando todo o cansaço
de um ano de trabalho árduo?
Sabe o senhor o que é de fato uma sala de aula de uma escola pública? Sabe o senhor o que é ter 15 aulas em plena sexta feira?
Penso que não, pois se soubesse não estaria tão determinado a nos tirar
o tão pouco que temos: A NOSSA ESTABILIDADE DE SABER QUE A NOSSA ESCOLA
É SÓLIDA, PERTENCE À REDE ESTADUAL E IRÁ PERMANECER NELA.
Meu caro
senhor, a vida de uma professora de Rede Estadual de Pernambuco
atualmente já é tão massacrante, por que então querer piorar ainda mais a
nossa vida?
Poderes são passageiros, assim como os cargos, ano que
vem é ano em que as posições podem se inverter, afinal, como disse certa
vez um político famoso do nosso estado “a política é como uma roda
gigante, um dia um grupo político está em cima, no outro a roda gira” e a
alternância de poder faz-se necessário para que a democracia se
fortaleça. Então para que mudar tão drasticamente a vida de tantas
pessoas, se em 2014, poderá o senhor nem estar mais ocupando este cargo
que hoje ocupa? E, sem desmerecer os seus méritos, ouso dizer, que não
foi conseguido através de concurso público.
Então, nobre senhor,
repense sua posição em relação à criação deste famigerado Projeto de Lei
para regulamentar um processo em andamento, diga-se de passagem, um
processo de municipalização que se mostrou desastroso nas cidades e
escolas nas quais foi implantado, fato que ficou claro e evidente em
todos os depoimentos prestados durante a Audiência Pública sobre
Municipalização na ALEPE (29 de outubro).
Veja isto não como uma
afronta e sim como algo positivo para o governo para o qual o senhor
trabalha, pois afinal, mesmo com todos os problemas que a Educação da
Rede Estadual de Pernambuco apresenta após sete anos de governo, NÓS,
QUE DE FATO FAZEMOS A EDUCAÇÃO neste estado ousamos QUERER PERMANECER
FAZENDO PARTE DESTA REDE.
POR TUDO ISSO, PEÇO-LHE ENCARECIDAMENTE, MEU NOBRE SENHOR:
DIGA NÃO À MUNICIPALIZAÇÃO DA ESCOLA JOÃO RODRIGUES CARDOSO PELO BEM DE TODOS! (COMPARTILHANDO)
Potiguara
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